Composta por filmes de diversas partes do país, a 6ª edição da mostra celebra a riqueza e a diversidade das culturas quilombolas, oferecendo um espaço para que suas histórias, tradições e lutas sejam reconhecidas e valorizadas. Após as sessões haverá conversa com diretores, curadores e membros da equipe
De 24 a 27 de abril acontece, no cinema do Sesc Palladium, a 6ª Mostra Cinema dos Quilombos, composta por filmes de estados como Minas Gerais, Maranhão, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Tocantins. O recorte da mostra são obras realizadas por quilombolas ou parceiros, trazendo para as telas a cultura rural e urbana dos remanescentes de quilombos que resistiram à escravidão e seguem organizados para manter seus territórios e suas tradições. As temáticas abordam as lutas pela preservação dos territórios e dos direitos humanos, a cultura e as memórias individuais e coletivas, traçando um amplo painel de caráter político, social, cultural e etnográfico. A 6ª Mostra Cinema dos Quilombos é realizada através da Lei Paulo Gustavo.
A 6ª edição da mostra é composta por sessões diárias, às 19h30, seguidas de conversas com diretores, membros da equipe, curadores e pesquisadores. No sábado, 26 de abril, às 18h haverá uma sessão com audiodescrição. A programação conta, ainda, com uma oficina ministrada por Fábio Martins, do Quilombo de Paraty/RJ, destinada ao público infantil. As atividades, desenvolvidas com metodologia específica para oficinas ministradas em quilombos, serão realizadas nos dias 27, 28 e 29 de abril, no Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango, em Belo Horizonte.
Os ingressos, gratuitos, podem ser reservados tanto pelo Sympla ou retirados na bilheteria do cinema 30 minutos antes da sessão. Caso os ingressos no Sympla estejam esgotados, a orientação é procurar a bilheteria do Sesc Palladium para retirada. A 6ª edição da Mostra Cinema dos Quilombos também contará com uma versão online, de 24 de abril a 4 de maio, no site www.cinemadosquilombos.com.br.
A coordenação de curadoria desta edição da mostra ficou a cargo de Alessandra Brito e a assistência de produção é assinada por Edson Quilombola, Maria Eunice de Souza Franco, Letícia Souza e Rosângela Silva. A coordenação, produção e produção executiva é de Cardes Monção Amâncio e as artes são de Kenny Mendes.
De acordo com Cardes Amâncio, “podemos destacar na 6a edição da mostra a presença de vários realizadores que vão comentar suas obras após as sessões. Oportunidade para o público dialogar sobre os filmes e conhecer mais sobre a realidade nos territórios quilombolas”.
A mostra integra o projeto Cinema dos Quilombos, que realiza oficinas audiovisuais nos territórios, mantém aberto em fluxo contínuo o chamado para filmes e se prepara para lançar o primeiro volume do livro sobre cinema quilombola. “Aproveitamos para convocar autores e autoras para submeterem artigos, entrevistas e outros formatos de textos para o segundo livro. O chamado encontra-se disponível no site da mostra”, informa Cardes Monção, coordenador do projeto.
Sobre as sessões, os filmes e os debates
Data: 24 de abril, quinta-feira
Na abertura da mostra, dia 24 de abril, acontecerá uma sessão com acessibilidade em Libras e legendas para surdos e ensurdecidos com a exibição dos documentários “Tança” (Jaboticatubas/MG – 2014), dirigido pela Irmandade dos Atores da Pândega e Associação Quilombola Mato do Tição; “Candombe do Açude – o passado contado pelo canto” (Jaboticatubas/MG – 2020), de Danilo Candombe; e do filme de ficção “Voa Arturos” (Contagem/MG – 2022), com direção de Othon de Saboia.
O documentário “Tança” conta a história de Tança, africana escravizada na região da Serra do Cipó, e matriarca ancestral do Quilombo do Matição, que teria vivido cerca de 130 anos. No filme, Constantina Augusta dos Santos, a tia Tança, renasce vigorosa na memória de seus descendentes mais velhos: seis irmãos da família Siqueira, que mantêm com impressionante lucidez e riqueza de detalhes a história do quilombo.
“Candombe do Açude”, por sua vez, retrata como foi o ritual do Candombe durante a pandemia no ano de 2020 e mostra como a nova geração vivenciou e sentiu a manifestação de suas tradições pela primeira vez, em 20 anos, sem a influência de visitantes.
Em “Voa Arturos”, uma disputa no céu do Quilombo dos Arturos se transforma quando a ancestralidade e a cultura de um povo entram em cena. Gravado em 2022, o curta é resultado de uma oficina audiovisual que integra o “Projeto de formação de agentes culturais – Comunidade Quilombola dos Arturos”, e foi idealizado, produzido e estrelado pela própria comunidade.
Após a sessão de abertura da mostra, haverá um debate com a participação de Danilo Candombe, Mateus Sabino (Quilombo do Açude), Mestre Gercino e Valéria Carvalho (Quilombo do Matição) e Othon de Saboia. A conversa será mediada por Delei Marques (Quilombo dos Marques), com tradução simultânea em Libras.
Data: 25 de abril, às 19h30, sexta-feira
Neste dia, será exibida uma sessão composta por quatro documentários, sendo eles: “A nossa festa já vai começar” (Santa Rita/MA – 2014), de Cadu Marques; “A Sússia” (Quilombo Lagoa da Pedra – Arraias/TO – 2018), de Lucrécia Dias; “O Velhas” (Quilombo Tira Barro – Lassance/MG – 2024), de Altiere Leal; e “Ouro – Uma Produção Árdua e Desvalorizada” (Quilombo do Povoado Pedreiras – Santa Maria/MA – 2020), também dirigido por Cadu Marques.
No documentário “A nossa festa já vai começar”, Tia Antônia observa e memoriza por décadas a dança de gente, carros e máquinas cruzando a BR 135, rodovia que liga o quilombo Centro dos Violas – lugar onde nasceu – ao quilombo Fé em Deus, ambos povoados de Santa Rita/MA. Migrações e encontros demarcam o contexto de formação das comunidades que se cruza e se faz coletivo durante a festa em que tambores anunciam um presente possível de permanência e sossego.
O filme “A sússia”, por sua vez, fala sobre uma tradição existente no sudoeste de Tocantins/MA e se passa na comunidade quilombola Lagoa da Pedra, onde a dança é uma das principais manifestações culturais. Já o documentário “O Velhas” é um mergulho nas histórias de vida, nas tradições culturais e nas lendas que permeiam o cotidiano dos ribeirinhos do Rio das Velhas.
Para finalizar a sessão, “Ouro – Uma Produção Árdua e Desvaloriza” aborda temas como a colheita, a produção e uma não valorização social. O documentário retrata a vida cotidiana de um povoado quilombola do interior do Maranhão. Pedreiras, em Santa Rita, é terra de preto que acorda cedo para ir à roça plantar, cultivar e arrancar a mandioca para fazer o ouro que vai para mesa, para nossa mesa.
Após a sessão acontecerá uma conversa com Cadu Marques, mediado pela curadora Alessandra Brito.
Data: 26 de abril, sábado
No sábado, a sessão 1 tem início às 18h e possui acessibilidade audiodescrição. A sessão 2 será às 19h30.
Na sessão 1, serão exibidos novamente os documentários “Tança” (Jaboticatubas/MG – 2014), dirigido pela Irmandade dos Atores da Pândega e Associação Quilombola Mato do Tição; “Candombe do Açude” (Quilombo do Açude – Jaboticatubas/MG – 2020), de Danilo Candombe; e o filme de ficção “Voa Arturos” (Quilombo dos Arturos – Contagem/MG – 2022), de Othon de Saboia.
A sessão 2, por sua vez, é composta pelos documentários “Quilombo Mata Cavalo” (Quilombo Mata Cavalo – Nossa Senhora do Livramento/MT – 2018), de Jurandir Amaral; “O Mundo Preto tem Mais Vida” (Quilombo Santa Rosa dos Pretos – Itapecuru-Mirim/MA – 2018), de Sabrina Duran; e “Memórias culinárias do Quilombo Ausente Feliz” (Quilombo Ausente Feliz – Serro/MG), de Lucas Assunção.
Em “Quilombo Mata Cavalo”, quilombolas distribuídos em seis comunidades resistem para preservar seus traços culturais, manter a integração comunitária e conquistar a regularização das terras herdadas de seus ancestrais. Já no documentário “O Mundo Preto tem Mais Vida”, a construção e ampliação da Estrada de Ferro Carajás, da BR 135, atravessa violentamente a comunidade quilombola de Santa Rosa dos Pretos Itapecuru-Mirim, no Maranhão. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e a empresa Vale S.A. cometem severas violações contra os quilombolas, mas a vida preta de Santa Rosa ainda resiste, à revelia do buraco branco que tudo devora sem se dar por satisfeito.
Por fim, o documentário “Memórias Culinárias do Quilombo Ausente Feliz” mergulha nas profundezas de uma comunidade quilombola, onde cada ingrediente conta uma história e cada prato é um testemunho de gerações.
Após as sessões acontecerá um debate com a participação de Jurandir Amaral, Zica Pires, Lucas Assunção e Luciene Campos (Quilombo Ausente Feliz). A conversa será mediada por Delei Marques (Quilombo dos Marques)
Data: 27 de abril, domingo
A sessão de encerramento da 6ª Mostra Cinema dos Quilombos é composta pelos documentários “Paraty Terra de Preto” (Quilombo do Campinho – Paraty/RJ – 2023), de Aline Braida, Fábio Martins, Luan Silva e Mauriceia Pimenta; “Adobe: habilidades tradicionais da construção Kalunga” (Comunidade Quilombola Kalunga – Cavalcante/GO – 2025), de Carlos Pereira; e o filme “E o seu dia a dia?” (Quilombo do Açude – Serra do Cipó/MG – 2024), de Danilo Candombe, Miguel, Joaquim, Bernardo, Enzo e Eduardo.
“Paraty Terra de Preto” é um curta idealizado e realizado por jovens de Paraty, em 2015, através de edital Secretaria de Audiovisual, Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial, Ministério da Cultura, Governo Federal.
O documentário “Adobe: habilidades tradicionais da construção Kalunga”, dirigido por
Carlos Pereira, um líder Kalunga e educador, é um tributo à resiliência e à criatividade de uma comunidade que transformou o barro em arte, o conhecimento ancestral em um futuro sustentável, e a luta pela preservação cultural em um legado vivo.
O filme se passa no coração do quilombo, reconhecido pela UNESCO como Sítio Histórico Patrimônio Cultural Kalunga, e mergulha na riqueza cultural e nas técnicas de construção vernacular da comunidade Kalunga. Através de entrevistas com anciãos, líderes comunitários e jovens, o documentário revela como o uso do adobe e de outros materiais naturais não apenas constrói casas, mas também tece a identidade, a resistência e a história de um povo que preservou suas tradições por gerações.
Após a sessão de encerramento, haverá um debate com a participação de Carlos Pereira e Fábio Martins com mediação de Rosângela Silva.
6ª Mostra Cinema dos Quilombos
Data: 24 a 27 de abril de 2025
Local: Sesc Palladium – Rua Rio de Janeiro, 1046 – Av. Augusto de Lima, 420, Centro Horário: às 19h30. E no dia 26/04, sábado, sessão extra às 18h
Ingressos: Os ingressos, gratuitos, podem ser reservados tanto pelo Sympla pelo link quanto retirados na bilheteria 30 minutos antes da sessão. Caso os ingressos no Sympla estejam esgotados, a orientação é procurar a bilheteria do Sesc Palladium para retirada.
Oficina ministrada por Fábio Martins e destinada ao público infantil
Datas:
27 de abril, domingo, das 9h às 12h, e das 13h às 17h
28 e 29 de abril, segunda e terça-feira, das 17h30 às 19h30
Local: Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango – Rua São Tiago, 216, Paraíso, BH
Sessões, datas e links do Sympla:
24 de abril: https://bileto.sympla.com.br/event/104796
25 de abril: https://bileto.sympla.com.br/event/104797
26 de abril: https://bileto.sympla.com.br/event/104799
27 de abril: https://bileto.sympla.com.br/event/104800
Instagram: https://www.instagram.com/cinemadosquilombos
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