Sérgio Pererê e Badi Assad estreiam shows do álbum inédito “Bentu” – 20/10

Apresentações acontecem em São Paulo, no dia 19/10, e em Belo Horizonte, no dia 20/10, em formato de duo, reunindo percussões de Pererê e o elogiado violão de Assad, em uma sonoridade embalada por duas potentes vozes da música popular brasileira

Quantos ritmos, letras e ideias são necessárias para criar um álbum? Para o mineiro Sérgio Pererê, uma das maiores referências da música afro-brasileira, e a paulista Bia Assad, uma das melhores violonistas e cantoras do Brasil, foi preciso apenas um encontro na mesa de bar para transformar intuições e reflexões sobre a condição humana em música. Com essa fluidez prosaica nasceu “Bentu” (2024), que no idioma criolou da Guiné Bissau significa vento, e marca a leve e poderosa parceria inédita entre Pererê e Assad.

O disco chega ao mercado e às plataformas digitais a partir do dia 4 de outubro e tem dois shows de lançamento. O primeiro acontece no dia 19/10, como pré-estreia, em São Paulo, na Bona Casa de Música, às 21h. Na sequência, é a vez de Belo Horizonte, com apresentação marcada no Teatro Francisco Nunes, dia 20/10, às 19h. O show na capital mineira integra o projeto “Música de Domingo”, do Circuito Municipal de Cultura, e tem ingressos gratuitos que podem ser retirados na bilheteria do teatro, duas horas antes da apresentação.

Embora transitem por palcos similares da música brasileira, em mais de 30 anos de carreiras bem sucedidas no Brasil e no exterior, Pererê e Assad se conheceram apenas em 2021, após um show na capital mineira com presença de Maurício Tizumba, que proporcionou o encontro entre os dois. Praticamente em uma noite de conversas, ambos decidiram gravar o disco “Bentu”, sem definições de gêneros, conceitos ou sonoridades, mas baseados apenas na sintonia imediata que estabeleceram e na vontade de fazer música fora de qualquer caixa conhecida.

“Eu sempre admirei muito a Badi à distância. Para mim, uma das maiores cantoras do país. Talvez por isso as nossas conversas fluíram tanto que começaram a nascer como músicas, já no primeiro encontro, sem a gente nunca ter se visto. Não escolhemos um tema, um ritmo, uma sonoridade. Eu sugeri que partíssemos do Reinado porque é uma influência muito forte para mim e que tem uma profundidade enorme, bem parecida com a sintonia que eu e Badi tivemos. E a Badi se abriu a esse universo e, a partir da nossa experiência junta no Reinado, fomos compondo letras e músicas”, diz Pererê.

Reinado

O disco “Bentu” nasce em um dos principais berços da cultura popular afro-mineira, na Irmandade Os Ciriacos, com mais de 70 anos de história, fundada em 1953, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, e na qual Pererê é coroado. Ali, Badi Assad foi apresentada a um modo diferente de fazer música, a partir da harmonia natural entre pessoas unidas em uma mesma oração, sem precisar de muito ensaio.

“É uma experiência linda, que mexe com o corpo e a cabeça da gente. Cheguei, conheci o capitão, entrei na capela, e aí os tambores começaram. Depois, entra o canto, aí aparecem instrumentos com outras frequências. É impressionante porque os tambores são muito altos e ninguém escuta o que o capitão está cantando, mas todos conseguem acompanhar. Não dá para ouvir com os ouvidos, literalmente é preciso ouvir com o corpo. Há uma sintonia absurda nesse tipo de expressão cultural. E isso diz muitos de uma cultura que entende a música de forma muito maior”, relata Assad.

Depois dessa experiência, as nove faixas de “Bentu” foram nascendo a partir de insights valiosos, entre sonhos, conversas por telefone e encontros intensos no estúdio. “Muitas letras surgiram em sonhos, eu acordava no meio da noite, tinha a ideia, escrevia, ligava para a Badi e dividia com ela. No estúdio, um começava a recitar alguma coisa, outro cantarolava um ritmo. Foi uma forma de compor genuína”, avalia Pererê.

Gravações e shows

Com essa sintonia, o disco foi gravado em apenas cinco dias, no Estúdio Engenho, em Belo Horizonte, com captação, mixagem e masterização a cargo do engenheiro de som André Cabelo. Além das vozes, Pererê comandou as percussões, embaladas por muitos tambores, como calabace, bara dunun e tama, e também a mbira e as palmas. Já Assad, conhecida por usar o corpo como percussão, levou essa característica para o disco, além de soltar a voz aveludada e conduzir harmonias inspiradoras com seu violão inconfundível.

No show, Pererê e Assad apresentam o álbum na íntegra, em formato de duo, sem apoio de banda. Os temas das músicas são amplos, filosóficos e densos, como se retratassem “a sorte do caminho, a certeza dos passos, a alma dos laços”, como diz a letra de “Maria”, uma homenagem à tradição de reverenciar Nossa Senhora do Rosário na cultura dos Reinados. Já “Terra do Cateretê” venera a dança caipira do interior do Brasil, e abdica de instrumentos convencionais, usando apenas as vozes como elemento percussivo e melódico — uma inspiração que lembra os arranjos do mestre Naná Vasconcelos.

“É impressionante ter criado tanto assim, do nada. Às vezes, sinto que essas músicas estavam prontas e a gente só foi um meio de condução, ainda que isso exija muito trabalho e sensibilidade. Foi um exercício de criatividade fazer esse álbum, mas principalmente de generosidade para manter uma tradição cultural viva. E o nosso show deve refletir toda essa emoção que colocamos nas músicas”, completa Assad.

Sérgio Pererê e Badi Assad

Sérgio Pererê é uma das principais referências da cultura afro-mineira, carregando em sua música uma forte influência dos Reinados de Minas Gerais, levando para a sua obra musical percussões, cânticos e poesias puras, muitas vezes declamadas como orações e mantras. Possui 20 discos na carreira e é reconhecido por uma criatividade singular que o levou a parcerias distintas com Maurício Tizumba, Mônica Salmaso, Fernanda Takai, Letrux, João Bosco e Emicida, por exemplo.

Já Badi Assad carrega nas veias a tradição erudita da família, sendo considerada, ainda aos 19 anos, a melhor violonista do Brasil no Concurso Internacional Villa-Lobos e, até hoje, uma das principais instrumentistas em atividade no país. É irmã dos músicos Sérgio e Odair Assad, que formam o renomado Duo Assad, e tem mais de 20 álbuns na carreira, marcada por referências da música brasileira, do forró ao samba, mas também acumulando dezenas de participações em festivais de jazz e música clássica pela Europa e EUA.

Sérgio Pererê e Badi Assad lançam “Bantu”

São Paulo

Onde. Bona Casa de Música (Rua Dr. Paulo Vieira, 101 – Sumaré)

Quando. 19/10 (sábado), às 21h

Quanto. Os ingressos custam a partir de R$ 70 e estão disponíveis neste link

Belo Horizonte

Onde. Teatro Francisco Nunes (Avenida Afonso Pena, 1.321 – Centro)

Quando. 20/10 (domingo), às 19h

Quanto. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados na bilheteria do teatro, duas horas antes da apresentação