Beagá Decô salva guarda memória arquitetônica 26/10

Beagá Decô salva guarda memória arquitetônica e gráfica de fachadas
e platibandas de casas de Belo Horizonte

Por meio de cerca de 700 fotografias, professora e artista gráfica Fernanda Goulart inventariou imóveis que buscaram inspiração no Art Déco para ornamentação

Com o intuito de salvaguardar parte da memória da arquitetura Art Déco em Belo Horizonte – que se popularizou como elemento decorativo em fachadas e platibandas de casas comerciais e residenciais na capital mineira a partir da década de 1930, a artista gráfica e professora associada na Escola de Belas Artes da UFMG, Fernanda Goulart, lança seu novo livro Beagá Decô – Patrimônio gráfico da cidade ao papel, no dia 26/10, às 10h, no Mercado da Lagoinha, no bairro de mesmo nome. 

Fernanda é autora da tese de doutorado e do livro homônimo Urbano Ornamento: um inventário de grades ornamentais em Belo Horizonte (e outras belezas), ambos de 2014. Desde 2008, dedica-se a pesquisas em que investiga, inventaria, interpreta, transfigura e multiplica a memória gráfica da arquitetura belo-horizontina, prioritariamente a não tombada.

Para compor Beagá Decô, formado por 10 plaquetes agrupadas em uma cinta, a artista gráfica inventariou cerca de 700 casas mapeadas entre os eixos Leste Oeste da cidade, a grande maioria fruto de caminhadas realizadas entre 2017 e 2018. Quinze bairros foram escolhidos por ainda conter grande incidência da arquitetura em linguagem Déco em seus casarios: Santa Efigênia, Santa Tereza, Horto, Sagrada Família, Centro, Lagoinha, Bonfim, Santo André, Floresta, Colégio Batista, Concórdia, Bairro da Graça, Carlos Prates, Padre Eustáquio e Calafate. 

Para Fernanda, visitar, mesmo que somente com os olhos, essas casas, “é fazer resistência ao abandono que acontece a cada vez que, no cotidiano, de modo apressado, as ignoramos. Tanto quanto são ignorados os tantos comércios que, em tempos de e-commerce e de esvaziamento dos centros urbanos, cada vez mais se fecham para as ruas”. Interessa à artista o registro do Art Déco não monumental, que ela chamou afetivamente de popular: “Essas casas singelas estão a todo tempo afirmando a memória não apenas das estruturas, mas dos próprios ofícios que lhes deram origem”, observa.

Segundo a autora, a memória gráfica desse Art Déco popular e anônimo constitui parte importante da formação da identidade local belorizontina e brasileira. O projeto Beagá Decô tem caráter experimental e o inventário, feito por uma artista visual, é traduzido nas 10 plaquetes que destacam o grafismo da arquitetura, constituindo uma “memória gráfica” que dialoga com o campo de estudos de Fernanda Goulart.

“O principal desafio de empreitadas como esta é lançar mão de estratégias criativas que possibilitem valorizar o patrimônio urbano em sua dimensão etnográfica, técnica e estética. Os fascículos podem ser manuseados de forma lúdica e independente, oferecendo um olhar renovado e reflexões críticas sobre o déco belo-horizontino, em toda a sua diversidade”, diz a artista. 

Um dos fascículos traz textos de três pesquisadoras convidadas – Beatriz Magalhães, Michele Arroyo e Yana Tamayo – com reflexões sobre o tema e seus tangenciamentos; há também um roteiro arquitetônico impresso num mapa, acrescido de textos sobre as edificações escolhidas. Para humanizar os registros para além das fachadas e platibandas, Fernanda entrevistou moradores e comerciantes que ocupam os imóveis, retratando seu olhar sobre as edificações e o bairro onde estão inseridas.

Histórico – O livro Beagá Decô é desdobramento de outro projeto, “A cidade e sua lírica geometria decorativa”, fruto do pós-doutorado de Fernanda Goulart realizado em 2022 junto ao Centro de Artes, Design e Moda da Universidade do Estado de Santa Catarina e ao Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal de Pernambuco, que também será lançado na mesma ocasião. Com tiragem artesanal, trata-se de uma caixa lúdica e interativa, com impressos e experimentações que também dissecam a visualidade do Art Déco. 

Fruto de cuidadosa análise gráfica, instigada e provida pelos processos de tradução e experimentação com materialidades diversas, a obra constitui-se como um laboratório de produção e pensamento gráficos. Nesse contexto, Beagá Decô é uma forma de democratizar tal obra, num formato mais acessível ao público em geral. Ambos os trabalhos são uma continuidade do resultado da tese de doutorado de Fernanda, quando a professora documentou cerca de 5 mil fachadas nos bairros mais antigos de Belo Horizonte, registrando os desenhos ornamentais das grades (cercas, portas e janelas) forjadas em ferro, e desdobrada em livro homônimo, contendo mais de 3 mil desenhos vetoriais, que configuram um imenso e editável banco de imagens. Conheça mais sobre os projetos de Fernanda Goulart em @urbanoornamento (Instagram).

Síntese dos livretos que compõem a obra Beagá Decô:

1) Na diversidade: fascículo introdutório que aborda aspectos históricos do Art Déco belo-horizontino e do campo da memória gráfica, e apresenta a coleção; 

2) Vinhetas, vinhetas, vinhetas: traduz em desenho digital os elementos gráficos mais expressivos das fachadas; 

3) Uma paleta possível: apresenta a diversidade cromática da arquitetura Déco; 

4) Outras grafias: traz outros elementos gráficos das fachadas Déco, como grades ornamentais, calçadas portuguesas e tipografias nominativas;

5) Pinturas são platibandas: aborda relações entre a arquitetura popular deconiana e a história do abstracionismo no Brasil; 

6) Outras belezas: revela interferências e intervenções posteriormente feitas nas edificações Déco, dando a ver a forma inventiva ou descaracterizada com que estão inseridas no fluxo da cidade; 

7) Despojo: expõe a degradação a que estão submetidas algumas das fachadas; 

8) Vós, vozes: traz relatos e fotografias dos moradores e comerciantes que habitam esses edifícios com suas impressões sobre os lugares; 

9) Outros olhares: contém textos histórico-críticos de Beatriz Magalhães, Michele Arroyo e Yana Tamayo; 

10) Cartografia decorativa: oferece um roteiro arquitetônico em formato de mapa, com textos e curiosidades sobre as edificações escolhidas.


A coleção Beagá Decô terá lançada sua versão em e-book acessível para cegos e pessoas com baixa visão, contendo áudio descrição de textos e imagens. Este projeto (0297/2022) foi financiado pelo Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte.   

LANÇAMENTO BEAGÁ DECÔ

Quando: 26/10/24, a partir das 10h, conversa com autora e autógrafos
Onde: Mercado da Lagoinha – Avenida Antônio Carlos, 821, Lagoinha – BH