Projeto é um farol de esperança na luta contra a desigualdade racial. Ele oferece uma plataforma-base para a criação cênica com informações de ponta, para que mulheres negras expressam suas histórias e culturas através do trabalho
Mulheres negras da capital mineira terão mentorias de Desenvolvimento Pessoal & Profissional, que auxiliarão na “guinada” da carreira de cada uma e na direção da realização dos seus sonhos e objetivos. Essa ação integra o terceiro módulo do Projeto Corpo Dança e Cultura, tem como objetivo de impulsionar o desenvolvimento de habilidades técnicas, artísticas, criativas e de gestão de carreira, contribuir para o sucesso profissional de cada uma delas, além de promover a valorização pessoal, e o reconhecimento da importância da história e cultura destas mulheres.
Segundo Cyntia Reyder,, que é a idealizadora, responsável pela Elaboração, Direção Geral e Professora do projeto,, a mentoria tem se consolidado como uma ferramenta essencial no desenvolvimento de pessoas capazes de gerar impactos significativos em suas vidas. Ela proporciona uma abordagem estruturada e personalizada ao ajudar pessoas a expandir suas perspectivas, aprimorar suas competências e enfrentar desafios complexos com confiança. “As aulas estão muito boas, as residentes estão se desenvolvendo ainda mais em vários aspectos, tanto de consciência em relação à importância da continuidade do aprimoramento técnico e artístico, como também humanas”, explica.
Ela conta que as questões relacionadas à autonomia da mulher e, principalmente da mulher preta, são diversas e profundas. “Numa residência de apenas dois meses e meio, o que nos propomos é suscitar valores e pontos fundamentais a serem trabalhados no dia a dia, de modo que estes pontos, ligados diretamente à autovalorização, valorização do (a) outro (a) e das ações, atividades e trabalhos, levem cada uma ao auto aprimoramento contínuo de si mesmas (fortalecimento destes valores), algo necessário para a realização nos diferentes campos”, completa.
O Corpo Mostra Cultura consiste num projeto inovador de Criação e Gestão Artística Cênica, que capacita mulheres negras, também contribui para a promoção da igualdade racial, empoderando mulheres pretas, destacando suas vozes e histórias através da dança. Além disso, ao fortalecer a autoestima e a valorização pessoal, o Corpo Mostra Cultura contribui para a geração de cidadãs mais confiantes e conscientes de seu potencial. Ao desenvolver habilidades técnicas e artísticas, este não apenas enriquece o cenário cultural, mas também oferece oportunidades profissionais, reduzindo desigualdades econômicas. O projeto tem como diferencial a combinação de criação artística, apresentações e circulação de solos em Dança, os bate-papos para compartilhamento dos processos e as mentorias individuais de auto desenvolvimento.
Guidá Ramos, Direção de Produção e Professora neste projeto completa, dizendo que o mesmo é importantíssimo: “Existem poucas residências acontecendo onde as mulheres pretas, mulheres negras, têm esse protagonismo, onde elas têm a possibilidade de estar aprendendo a desenvolver seus trabalhos, a desenvolver ideias e a aprender mais sobre autoprodução, autogestão de carreira, além de ser uma oportunidade incrível de se produzir um trabalho para geração de renda, possibilitando que as mesmas circulem com estas obras que serão produzidas. Gerar possibilidade de renda para elas também”, enfatiza.
Continuidade – Essas mulheres já participaram de dois módulos do projeto. No primeiro módulo, as estudantes aprenderam mais sobre conteúdos relacionados ao desenvolvimento técnico e artístico em dança, além de realizarem também um trabalho específico de consciência e domínio corporal relacionado ao desenvolvimento do autoconhecimento, com exercícios voltados para a capacidade de improvisação e de criação. Junto a isto, conteúdos ligados ao empoderamento feminino negro fizeram e continuam sendo parte essencial da pauta. No segundo módulo, houveram aulas para a criação dos espetáculos solos, com direcionamentos específicos para cada uma -direcionamentos estes que continuam-, ao mesmo tempo em que se desenvolveram e se desenvolvem nos campos pessoal, profissional e relacional -entre elas se apoiando, e “com o público imaginário”. Neste terceiro módulo alguns ensaios contarão com convidados, como parte da metodologia e oportunidade de exercitarem de fato a “apresentação do seu espetáculo solo”. Esta ação é fundamental para os aprofundamentos, pra ver o que está funcionando, o que é necessário alterar.
“As residentes estão respondendo muito bem aos desafios propostos, cada vez mais disponíveis mentalmente, corporalmente, e isso abre campo para a assertividade nas decisões e ações, na maior parte do tempo. As criações são riquíssimas; elas estão falando sobre elas, sobre experiências significativas de suas vidas e aprendizados, e também sobre momentos decisivos, de mudança de ciclos, e esta residência está sendo também, segundo as participantes, um “divisor de águas”. Ao mesmo tempo as obras possuem um caráter universal, de modo que o público poderá se identificar com as situações, momentos, histórias compartilhadas”, destaca a idealizadora do projeto.
Outra integrante da Equipe Principal, e que também destaca a importância do projeto é Marilda Cordeiro, Proponente, Diretora Artística e Professora do projeto. “Este projeto é um farol de esperança na luta contra a desigualdade racial. Ele oferece uma plataforma-base para a criação cênica com informações de ponta, relacionadas ao desenvolvimento pessoal pela linguagem corporal, e à expansão da visão e das ações no campo profissional, para que mulheres negras expressam suas histórias e culturas através do trabalho em dança com excelência”, explica Marilda Cordeiro, Proponente, Diretora Artística e Professora do projeto.
No Módulo seguinte, as bolsistas terão a experiência da circulação das obras com a apresentação dos espetáculos solos para o público de Capim Branco, Matozinhos e Pedro Leopoldo.
CONHEÇA AS MULHERES NEGRAS QUE ESTÃO PARTICIPANDO DA MENTORIA
Evelyn Soares – Iniciou sua carreira em 2012 fazendo aulas de Ballet, sendo uma das primeiras alunas do projeto Agnes Cidadania criado pela Cia Agnes. Se tornou bailarina da Cia e teve participação em alguns espetáculos como: Que Lugar é Esse? Zona quente e Quitérias. Em 2016 participou do Festival Danzamaratón na Espanha, e em 2019 participou de uma residência artística com quatro bailarinos internacionais. Recentemente participou do espetáculo “A Jogada” com o Coletivo No Meio de Paracom. Atualmente atua como artista independente, ministrando aulas de dança para crianças e adolescentes nas escolas da regional Barreiro.
Juliana Silva – Aprendeu a apreciar a dança desde muito cedo e acredita que seus primeiros passos foram no samba, por influência das rodas frequentadas pela sua mãe. Participou e vivenciou muitas rodas e treinos de capoeira. Outro ritmo que sempre fez parte da sua trajetória é o funk. Ao longo dos anos, teve a oportunidade de participar de festivais de dança em Belo Horizonte/MG. Já auxiliou na construção coreográfica de espetáculos, eventos e vídeos para internet. Frequentadora assídua de rodas de samba e eventos afrocentrados. É Assistente Social e atuou de novembro de 2022 até dezembro de 2023 em um projeto voltado para o funk no território L4 (Alto Vera Cruz, Granja de Freitas e Taquaril) auxiliando nas oficinas formativas direcionadas para participantes do projeto, oficineiros e equipe técnica. A fim de transformar o olhar comunitário para a cena do funk, rap, trap e outras linguagens.
Luiza Reis – Estudante de Letras Bacharelado, na Universidade Federal de Minas Gerais, bolsista no projeto Sarandeiros – companhia de danças populares da UFMG. Possui experiência de 10 anos com o ballet clássico, e possui experiência no estilo jazz e contemporâneo adquiridos na Academia Transforma Centro de Dança da cidade de Curvelo/MG. Atua também como modelo agenciada pela Doze e Máxima Talentos.
Emanuela Santos – 24 anos, residente em Belo Horizonte – MG. É bailarina/dançarina e produtora Cultural. Formada no Curso Técnico em Dança do CEFART, graduanda em Ciências Econômicas na PUC Minas, Cofundadora e Produtora do Giza Tu: Coletivo de Aquilombamento Artístico e Cia. AFRO BELÔ, onde em ambas atua como Produtora, Coreógrafa e Intérprete-Criadora.
Nayara Alana – Mãe, educadora física, profissional em dança há mais de 15 anos. Atua como professora de danças folclóricas em uma Escola da rede municipal de Belo Horizonte. Integrou o grupo folclórico de danças Aruanda e atualmente integra o grupo Guararás. Sua experiência em dança iniciou aos nove anos de idade, através do Jazz e Ginástica Rítmica, dando continuidade com o Ballet Clássico pela Academia Toute Forme. Esteve presente em apresentações em festivais e eventos culturais nacionais e internacionais. Em 2015, foi convidada para ser passista no Bloco Caricato Mulatos do Samba, onde atualmente é Rainha da Bateria. Em 2018, desfilou como destaque de chão na Escola de Samba Cidade Jardim. Atualmente desfila como destaque de chão na Escola de Samba Canto da Alvorada. Realiza apresentações como Passista Show e com seu trabalho busca levar seu conhecimento, experiência e amor pela dança para crianças negras periféricas que não possuem acesso a arte da dança.
Thally Vitória – Começou a dançar no grupo Impactto em 2014, onde passou por diversas experiências e diferentes estilos de danças. Em 2018, entrou no Projeto Anjos d’ Rua, onde começou a estudar o Hip Hop Dance e Ballet Clássico. Em 2019 iniciou no contemporâneo e Locking,e neste mesmo ano ingressou na Crew UBDI. Em 2022 teve a oportunidade de participar de uma Oficina idealizada pelo Grupo Identidade onde pode estudar Jazz Clássico, Hip Hop e Dancehall. Desde então seu foco de pesquisa e estudo tem sido o Hip Hop dance, Dancehall e o House Dance. Atualmente integra o coletivo multiartístico Corpos em Um e participa do Projeto Jameika.
Raquel Farias – Iniciou sua jornada na dança pelo Valores de Minas em 2017 onde participou do seu primeiro espéculo (Abarcar), em 2019 prosseguiu seus estudos no Técnico de Dança pelo Cicalt/Valores de Minas formando em 2020. Também em 2019 participou do Projeto Anjos d’ Rua tendo aulas de Danças Urbanas, Contemporâneo, Street Jazz, Passinho de BH e Vogue. Em 2021 entrou para o grupo Cultura do Guetto onde participou de outros dois espetáculos e teve a oportunidade de criar e apresentar seu primeiro solo de danças urbanas. Fez parte da Cia Fissura onde pode estudar Funk passinho de BH. Em 2023 iniciou seu trabalho como professora de danças urbanas juntando seus conhecimentos de Hip Hop e Passinho de funk no projeto Crias de BH, tendo a oportunidade de aprender mais e de ensinar tudo que aprendeu ao longo dos anos.
CONHEÇA AS PROFESSORAS DO PROJETO
Bio Cyntia: Profissional em Dança há mais de 30 anos, atua como Diretora, Coordenadora e Produtora de Grupos e Projetos Educacionais, Artísticos e Culturais em Dança & Artes Integradas. Pesquisadora Corporal e Pós Graduanda em Ensino e Pesquisa no Campo da Arte e Cultura, há 10 anos atua com Mentorias em Desenvolvimento Pessoal e Profissional a partir da Linguagem Corporal. Foi bailarina do Camaleão Grupo de Dança e da Cia. De Dança do Palácio das Artes em Belo Horizonte, através das quais obteve diferentes premiações em MG. Esteve na Holanda em 2008 e na França em 2012 com aulas e apresentação de espetáculo. Desde 2006 atua em projetos sócio culturais em regiões periféricas de BH através da ONG Corpo Cidadão, Programa Valores de Minas –Cicalt-, e Escola de Artes –Instituto Unimed BH. Como Coordenadora da área da Dança no Programa Valores de Minas, fez a Co-Direção do espetáculo “Zanzar” (2014), e a Direção Geral e Artística do Espetáculo “Nós Sobre Nós” (2015), que contaram com a participação de cerca de 400 jovens das áreas de Circo, Dança, Artes Visuais, Música e Teatro, Coreógrafa de turmas de Dança desde 1996, a partir de 2005 dirige espetáculos de Dança & Artes Integradas, incluindo espetáculos solos, e de cias./grupos. Com as experiências em direção de espetáculos elaborou uma metodologia específica com exercícios para a auto gestão pelo desenvolvimento técnico e artístico.
Marilda Cordeiro – Mulher negra, 56 anos, Mestra, performance, professora de dança Afro, coreógrafa e educadora social. Formada em pedagogia, especialista em Dança e Consciência Corporal, iniciou sua carreira de dança aos oito anos de idade participando do Grupo Folclórico Meninos de Sinhá dirigido pelo mestre Léo e o educador Quinzinho no CIAME Flamengo. Aos 12 anos foi convidada pelo Mestre Marcio Alexandre, vulgo Negão para ser integrante do Grupo Quilombo das Gerais, iniciando então na Dança Afro. Começou seu trabalho como educadora social e professora de Dança Afro em 1991, na comunidade do Alto Vera Cruz, desde então vem trabalhando como Arte/educadora desenvolvendo projetos de corporeidade ligados à Educação e valorização da História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Atualmente, ministra aulas de dança para crianças e jovens da saúde mental no projeto Arte da Saúde, aula de Afro-Zumba, para mulheres vítimas de violência doméstica no Programa Mediação de Conflitos, coordena o Projeto Mulher Preta em Cena com meninas pretas de uma escola da rede municipal. Diretora, professora e coreógrafa do coletivo de mulheres “Autocuidado no Terreiro”
Guidá Ramos – Mulher preta, mãe, empreendedora, Arte educadora, produtora cultural, intérprete criadora, diretora artística, professora de danças e coreógrafa. Atuante há 20 anos na cena artística, é idealizadora e diretora da Crew feminina de danças urbanas UBDI, dos eventos “Agosto das deusas”, “Encontrão das Minas”. Estudante e pesquisadora da cultura Hip Hop e das danças do povo preto, cria seus projetos e trabalhos com o foco no protagonismo feminino preto e periférico. Criando ações diferenciadas no qual as mulheres possam se descobrir ou se redescobrir através das trocas de saberes em diferentes campos de atuação. Atua como MC/apresentadora e jurada em batalhas de danças e eventos em geral. É coreógrafa e dançarina da cantora mineira Bia Nogueira desde 2022.
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