Exposição Paisagens Mineradas até 15/03

“Paisagens Mineradas”: exposição de arte e resistência chega ao Museu da Inconfidência, em Ouro Preto

Com realização do Instituto Camila e Luiz Taliberti, curadoria de Isadora Canela e Carla Cruz, exposição segue em cartaz até o dia 15 de março de 2025

Até o dia 15 de março de 2025, o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, sedia a exposição gratuita “Paisagens Mineradas: marcas no corpo território”. Motivada pelo rompimento da barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho, ocorrida no dia 25/1/2019, a exposição propõe um olhar profundo sobre as consequências da mineração nas paisagens físicas e simbólicas do nosso país. O acervo é composto por obras de doze artistas mulheresBeá Meira; Coletivo ASA (Associação de Senhoras Artesãs de Ouro Preto); Isadora Canela; Isis Medeiros; Julia Pontés; Keyla Sobral; Lis Haddad; Luana Vitra; Mari de Sá; Murapyjawa Assurini, do Coletivo Kujÿ Ete Marytykwa’awa; Shirley Krenak e Silvia Noronha, com a realização do Instituto Camila e Luiz Taliberti, coordenação de Marina Kilikian e curadoria de Isadora Canela e Carla Cruz.
 

A escolha do local para essa exposição é carregada de simbolismo. O Museu da Inconfidência fica instalado na antiga Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica, atual Ouro Preto, que representava o centro administrativo e jurídico de uma cidade que foi o epicentro do ciclo do ouro no Brasil, período em que a mineração moldou a paisagem e a história do estado. “Ocupá-lo com obras que abordam os impactos da mineração é também reivindicar a nossa memória e denunciar um sistema secular de violações e violências, tanto em corpos humanos quanto em corpos-territórios”, comenta a curadora.
 

A tragédia de Brumadinho é mais do que uma cicatriz na história de Minas Gerais: é um marco de luto e luta por justiça. No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem do Córrego do Feijão se rompeu, liberando um mar de lama tóxica que ceifou 272 vidas humanas, devastou hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica, além de áreas de proteção permanente ao longo de cursos d’água. O histórico de crimes ambientais em Minas também inclui o rompimento de uma barragem em Mariana, ocorrido em 2015, que deixou ainda 19 mortos e o distrito de Bento Rodrigues soterrado em lama.
 

“Não foi um acidente. O processo ainda está em curso e ninguém até o momento foi responsabilizado”, relembra Helena Taliberti, presidente do Instituto Camila e Luiz Taliberti. “Perdemos nossos sonhos e a segurança que sentíamos. Perdi meus filhos, Camila e Luiz Taliberti, minha nora, Fernanda Damian de Almeida, grávida de cinco meses, do meu neto, Lorenzo. Perdemos tudo naquele dia 25, sonhos, planos, perspectivas”, enfatiza.

“Paisagens Mineradas” é formada por obras de 12 mulheres artistas, entre pinturas, gravuras, videoarte, instalações e fotografias. A exposição resgata a memória dos que perderam a vida e dialoga com um futuro possível: as obras expostas retratam a devastação, mas também a capacidade de regeneração. “Nos horizontes do tempo, cicatrizes desenham as paisagens do corpo, da memória e da terra. ‘Paisagens Mineradas’ é um convite à imaginação de um solo fértil. Nessa lama vermelho-sangue, semeamos a vida”, reflete o texto de apresentação da mostra.
 

O texto ainda ressalta o papel crucial do feminino na iniciativa: “esta exposição reúne mulheres artistas que, feito mãe-terra, se organizam em rede para germinar outras paisagens possíveis”. A curadora Isadora Canela aponta que ter uma equipe integralmente feminina, inclusive na produção da mostra, reflete uma narrativa crítica sobre exploração. “Em um sistema que normaliza a violência, o que se faz com a montanha, se faz com a mulher. Pensar no lugar que as mulheres ocupam na cultura e na arte, muitas vezes apagadas na história, é uma forma de subverter a lógica de um sistema opressor”, afirma Isadora.
 

“Essa é uma exposição sobre perda e renascimento. Uma forma de honrar cada vítima e para tornar viva a memória e busca por justiça por meio da arte”, declara Helena Taliberti. “O ato de levar ‘Paisagens Mineradas: marcas no corpo-território’ ao Museu da Inconfidência é um gesto poderoso de resistência e memória. A antiga Vila Rica, que um dia simbolizou a riqueza do ouro, hoje é ocupada por uma exposição que confronta as rupturas humanas, sociais e ambientais dessa exploração. A mostra é um convite a refletir sobre o futuro, honrando as vidas perdidas e o que ainda pode ser ressignificado”, conclui.

Exposição “Paisagens Mineradas”

Local: Anexo do Museu da Inconfidência | Sala Manoel da Costa Athaíde

Endereço: Rua Antônio Pereira, n° 3, Centro Histórico, Ouro Preto (MG)
Realização: Instituto Camila e Luiz Taliberti
Curadora: Isadora Canela e Carla Cruz

Entrada gratuita

Duração: até 15 de março de 2025