Avabrum lança campanha com charge do cartunista Latuff

Dando sequência às ações que marcam os seis anos da tragédia-crime da Vale, familiares e amigos das vítimas inauguraram painéis de led com a charge de Carlos Latuff em Belo Horizonte, para alertar sobre os processos criminais de Brumadinho

Junto a uma série de ações realizadas na data em que se completam seis anos da tragédia-crime ocorrida em Brumadinho, a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM) lança uma campanha para sensibilizar a população pela incansável luta por justiça. Para isso, em parceria com o renomado cartunista político Carlos Latuff, a AVABRUM inaugura dois painéis de led em Belo Horizonte, que escancaram a impunidade para o mundo.

Na imagem criada por Latuff, a marca registrada da mineradora Vale aparece despejando um mar de lama em cima de uma vítima, desesperada, que, ao mesmo tempo, é ameaçada pelo martelo de um juiz. A charge representa “o sentimento de indignação” e tem o objetivo de “lembrar para não se repetir”, segundo Latuff.

A imagem está instalada em dois imensos painéis de led, sendo um deles localizado na rodovia MG-010 (Linha Verde), no trevo de entrada para Vespasiano (sentido Confins); e o outro na avenida Cristiano Machado, na altura do número 1.205, em frente à Faculdade Faminas (também no sentido Confins). As obras ficam expostas ao público até o dia 31/03.

“O foco esse ano, mais do que nunca, é pressionar o judiciário brasileiro para que aconteça o mais rápido possível os julgamentos dos responsáveis pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Não podemos permitir que esse processo continue a andar a passos de tartaruga”, avalia Nayara Porto, presidente da AVABRUM.

Processo criminal

Neste contexto, a charge de Latuff critica o andamento do processo criminal que 15 executivos da Vale respondem na Justiça Federal pelo desabamento da Mina Córrego do Feijão, em 25 de janeiro de 2019. Até hoje, ninguém foi responsabilizado. Ao contrário, recentemente, o presidente da Vale, Fábio Schvartsman, foi beneficiado com uma decisão unânime da Segunda Turma do TRF-6, de 13 de março de 2024, que suspendeu o processo criminal contra ele — ainda cabe recurso. A AVABRUM representa familiares das 272 vítimas e tem expectativa que o processo seja acelerado a partir deste ano.

Por isso, segundo dona Maria Regina, membro do AVABRUM que perdeu a filha no desabamento da barragem, os painéis com a charge de Latuff cumprem o papel de escancarar para a sociedade uma realidade morosa sobre um dos maiores crimes socioambientais do mundo, que ainda aguarda justiça. “As charges ficarão em pontos estratégicos, onde as pessoas transitam bastante. Com certeza, os executivos da Vale vão se reconhecer nessa imagem. E esperamos que o impacto seja vergonhoso para eles”.

Irreparável

Com o lema “Memórias Irreparáveis – Uma Tragédia que Apagou Histórias Não Será Esquecida”, a AVABRUM tem conduzido uma série de ações para reverberar o marco de seis anos da tragédia-crime. Entre elas, a inauguração do Memorial Brumadinho, aberto ao público no último dia 25 de janeiro, em um amplo espaço no distrito de Córrego do Feijão, que inclui salas de meditação e galerias com a identificação de todas as joias, além de 272 ipês amarelos plantados, em homenagem a cada uma das vítimas.

Além disso, também foram realizadas ações tradicionais, como seminários e rodas de conversa, e o Memory Day, um momento no qual moradores, parentes das vítimas e amigos saem pelas ruas de Brumadinho de bicicleta para relembrar um hábito tradicional da região.

Avabrum

Em agosto de 2019, como uma reação dos familiares à brutalidade da tragédia-crime da barragem da mineradora Vale, que matou 272 pessoas em poucos minutos, no dia 25 de janeiro de 2019, nascia a Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão – Brumadinho, em Minas Gerais.

Mães e pais, viúvas e viúvos, irmãs e irmãos, filhos e filhas de vítimas fatais se uniram por causa de uma dor incomensurável, mas também, e principalmente, pelo amor pelos seus entes queridos engolidos por um mar de lama que não lhes deu chance de fuga. As vítimas, hoje, são chamadas carinhosamente de joias.