Visitantes da Casa Padre Toledo, em Tiradentes, acompanham restauração de pinturas decorativas
Registros no torreão do prédio do século 18 que abriga o museu vinculado à UFMG estavam escondidos por 13 camadas de tinta
Turistas e moradores da cidade de Tiradentes (MG) que visitam o Museu Casa Padre Toledo podem ver de perto o processo de restauração de pinturas decorativas do período colonial que estavam por baixo de camadas de tinta das paredes de uma das salas do museu. O trabalho teve início em janeiro deste ano e acaba de chegar à sua terceira e penúltima etapa. A conclusão está prevista para novembro próximo.
Para ver as pinturas integradas à sala do torreão do casarão bicentenário, que hoje abriga o museu pertencente à Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade (FRMFA) e integrado ao Campus Cultural UFMG em Tiradentes, basta comparecer durante o horário de visitação (terça a sexta e domingos, das 9h às 17h, e sábados, das 10h às 19h). Também podem ser agendadas visitas técnicas, pelo e-mail educativomctp@gmail.com.
As pinturas foram redescobertas, provavelmente, na década de 1980. Entre 2010 e 2012 foram realizados diagnósticos e estudos mais aprofundados, mas apenas em 2022 foi possível iniciar os trabalhos de restauração. Uma equipe composta de 11 profissionais, entre restauradores, pesquisadores e técnicos, conduz o delicado processo, que, atualmente, após a remoção das camadas de repintura, encontra-se na fase de nivelamento e preenchimento de lacunas, trincas e pontos com perda de reboco. Na etapa final, serão feitas a reintegração cromática e a apresentação estética das ornamentações.
As pinturas são rara referência de ornamentação em edificações civis do período colonial. Na região do barrado havia 13 camadas de tinta sobre as pinturas, resultado das diversas intervenções e usos do casarão ao longo dos últimos dois séculos. O casarão é composto também de outras 11 salas, com rico conjunto de forros pintados, e foi residência do Padre Carlos Correia de Toledo e Melo, um dos grandes nomes da Inconfidência Mineira. As pinturas murais, agora visíveis, tornam-se mais um bem integrado à edificação e propiciarão ações de pesquisa, formação e comunicação museológica.
Influência do rococó francês
Segundo a professora Verona Segantini, presidente da FRMFA e coordenadora do projeto, a etapa de remoção está em estágio avançado, o que possibilita a visualização das pinturas de forma mais clara. Segundo Verona, os horários de visitação foram ampliados, após a reabertura, para que o museu possa receber público espontâneo e, sobretudo, grupos interessados em conhecer os processos de restauração que acontecem no museu. Também foi feito um esforço de engajamento da comunidade, que recebeu convites de porta em porta, sobretudo nos bairros afastados do Centro Histórico de Tiradentes.
À frente da parte técnica do trabalho está o restaurador André Luis de Andrade, graduado em Conservação-Restauração de Bens Culturais pela UFMG e mestrando em preservação do patrimônio cultural pelo Centro Lúcio Costa, unidade especial do Iphan (CLC/Iphan). Segundo o restaurador, com o avançar do processo, “é possível analisar novos aspectos estilísticos, técnicos e o estado de conservação com maior precisão. A pintura das paredes do torreão apresenta uma composição floral caracterizada como imitação de tecido de seda lavrada, influência do rococó francês, representada pela decoração composta por ramos florais assimétricos intercalados por ramos vegetais em composição em losangos, distribuídos sobre fundo em imitação de damasco”. Essas características, ainda de acordo com Andrade, possibilitam a identificação do trabalho como feito no período do Rococó em Minas Gerais.
A intervenção é acompanhada por um grupo técnico – formado por conservadores, restauradores, professores e pesquisadores de diferentes instituições e também pelo Iphan –, que dá suporte às ações e decisões conceituais e técnicas para a restauração. Gerido pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), o projeto de restauração foi viabilizado com recursos oriundos de emenda parlamentar.
O Museu
A antiga Casa do Padre Toledo foi transformada, em 1971, em um museu vinculado à Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade (FRMFA), atualmente fundação de apoio à cultura da UFMG. Em razão de sua representatividade arquitetônica, histórica e artística, o casarão foi tombado individualmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1952. Ele possui um rico conjunto de forros pintados, seu principal destaque. Sua principal missão é a preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural referenciado em suas singularidades arquitetônicas, geradas por diferentes técnicas construtivas tradicionais, como pau-a-pique, adobe e moledo, e seus elementos artísticos integrados, além de ter sido um dos palcos de um dos principais momentos da história de Minas Gerais no século 18.
Em tempos pré-pandemia, o museu recebia cerca de 30 mil visitantes por ano. Após a reabertura para visitação, tem recebido aproximadamente 4 mil visitantes a cada mês. O prédio fica na Rua Padre Toledo, 191, em Tiradentes. Mais informações sobre o museu e suas atividades podem ser obtidas pelo telefone (32) 3355 1257, pelo e-mail campustiradentes@dac.ufmg.br, no site e nos perfis do museu e do Campus Cultural UFMG em Tiradentes nas redes sociais.
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