Os responsáveis por “baianizar” a folia mineira desfilam com o tema “Sou o Caçador da Alegria” e reverenciam o bloco afro de Piripiri e levanta bandeiras da sustentabilidade e contra a intolerância religiosa a partir do legado de Mãe Stella de Oxóssi
O Baianas Ozadas desfila na segunda-feira de Carnaval, 12 de fevereiro, levando para a avenida uma grande e justa homenagem. Neste ano, o Ara Ketu, um dos mais importantes blocos afro de Salvador, será celebrado durante o cortejo, com o tema “Sou o Caçador da Alegria”. A concentração acontece a partir das 9h, na Av. Afonso Pena, em frente à Igreja São José, no Centro de Belo Horizonte.
O fundador e vocalista do bloco Baianas Ozadas, Geo Ozado, explica que o significado do tema escolhido para o Carnaval de 2024 vai além da folia. “É uma homenagem que se traduz em três, a partir da escolha do orixá Oxóssi, o caçador – odé na língua yorúbá -, o Rei de Ketu, terra de uma das nações do candomblé no Brasil. E a partir de Oxóssi, que é o meu orixá de cabeça, essa homenagem se divide também ao bloco afro e também banda Ara Ketu (que na tradução do yorúbá é povo de Ketu) e à Yalorixá (Mãe-de-Santo) Stella de Oxóssi, do Ilê Axé Opô Afonjá, um dos principais e mais tradicionais terreiros de Salvador”, conta.
Vera Lacerda, fundadora do Ara Ketu, expressou sua satisfação com a homenagem. “Que o Baianas Ozadas faça um carnaval maravilhoso em Belo Horizonte, cidade querida por nós”, disse. O vocalista do Ara Ketu, Dan Miranda, também demonstrou sua gratidão. “É uma honra ser homenageado pelo Baianas Ozadas, bloco tradicional de Beagá e ainda fundado por um baiano, o querido Geo. O povo mineiro ama o Ara Ketu e a gente fica muito feliz por essa homenagem. Espero em breve estar junto com eles, fazendo uma participação ou show”, completa.
A Mãe Stella de Oxóssi, importante líder religiosa de Salvador (BA), falecida em 2018, também será celebrada durante o cortejo do bloco. “Mãe Stella, Odé Kayodê, o caçador que traz a alegria – na tradução do yorùbá – nos traz o desafio de refletir um carnaval além da festividade. Ela representa uma Bahia que inaugura as festas de rua de um jeito singular, a Bahia matriarcal e ancestral, de uma personalidade forte no seu tempo que lutou e defendeu as tradições das religiões de matriz africana, sobretudo no combate às intolerâncias religiosas. Mas também foi a sacerdotisa que para além da tradição oral, registrou em livros e artigos a sabedoria, literatura e mitologia do povo de ketu, dos terreiros. Diversas obras escritas por ela a fizeram tornar-se a primeira mãe-de-santo a ocupar uma cadeira na Academia de Letras da Bahia. Nos livros dela, o legado de mulheres e homens que vieram do continente africano para contribuir com uma civilização nova no Brasil e, principalmente, ensinar e lembrar que todos nós viemos e somos parte de uma mesma natureza, advinda de um planeta vivo, em que animais, vegetais e minerais dependem uns dos outros para sobreviver, “, conta Geo Ozado.
Letra da música tema (clique aqui e ouça):
Jeito Ara Ketu
(Geo Ozado)
Cheio de “ozadia” eu vou
Com fé e devoção
Sou caçador, eu sou
Da alegria e da paixão
Pra amar
Com todo respeito
Eu vou cantar
Conquistar o seu dengo
Amar…
com todo respeito
Eu vou, eu vou cantar
E festejar!!!
Que tu… que tu… que tu…
Só tu me dá prazer
Ketu… Ketu… Ketu…
Pra fazer acontecer
Ará! O meu Ara Ketu
Ará! Me deixa desse jeito
(Hum!)
Ará! Com o meu Ara Ketu
Ará! Vou festejar!
Lavagem, sustentabilidade e intolerância religiosa
Com legitimidade e representando bem a herança dos carnavais tradicionais da Bahia em Minas Gerais, o Baianas Ozadas se orgulha por realizar, no início do cortejo, a já tradicional lavagem das escadarias da Igreja de São José. “É um momento singular que só o Baianas proporciona no carnaval da capital. É momento de elevar o pensamento e vibrar boas energias. Não importa o credo, e sim uma reflexão em favor da paz, da fraternidade e cuidado com a cidade. Ano passado lançamos uma ala contra a intolerância religiosa e, infelizmente, vimos no ano que passou diversos casos de racismo e intolerância, como foi com o jogador Paulinho do Galo. Isso é inaceitável no estado num país laico como o Brasil”, defende Geo, que reforça que neste ano pretende reforçar esta bandeira contra a intolerância no carnaval.
Se reconhecer parte da natureza e reverenciar os elementos, plantas e árvores é um ponto em comum nas religiões de matriz africana como o candomblé e a umbanda. Diante disso, para o Carnaval de 2024 o Baianas Ozadas prepara ações para despertar a consciência dos foliões acerca da sustentabilidade.
Sobre o Baianas Ozadas
Fundado em 2012 no dia 19 de fevereiro, pelo jornalista e músico baiano Geo Cardoso, que mais tarde adotou como nome artístico “Geo Ozado”, o Baianas Ozadas dissemina entre os mineiros a cultura e musicalidade do estado natal do seu criador. Foi o bloco responsável por “baianizar” a folia belo-horizontina, sendo recordista de público e transformando a segunda-feira num grande Carnaval popular no centro da cidade. No ano da fundação, o grupo era apenas uma ala de sete pessoas, o idealizador entre familiares e amigos, que despretensiosamente, queriam aproveitar a folia que novamente floresceu na capital.
A partir de 2013, foi formada a primeira bateria de rua do Baianas Ozadas, adotando uma temática a cada edição, com crescimento vertiginoso ano a ano. Em 2017, reuniu um público de 500 mil foliões, divulgado pela imprensa, sendo, possivelmente o recorde da festa momesca na capital, pois à época não existiam tantos grandes blocos para disputar os foliões.
Em 2023, com um ano de atraso devido à paralização da pandemia da Covid-19, o bloco celebrou uma década de de fundação em um cortejo histórico que marcou a grande retomada do Carnaval. E para 2024, completando 12 anos de história, a intenção é que a essência do Baianas Ozadas seja ainda mais valorizada na avenida, no cortejo e na tradicional lavagem das escadarias da Igreja de São José.
Baianas Ozadas no Carnaval 2024 – Homenagem ao Ara Ketu
Data do desfile: 12 de fevereiro de 2024 – segunda-feira de Carnaval
Horário e local da concentração: 9h, Avenida Afonso Pena, próximo à igreja São José, Centro, Belo Horizonte.
Trajeto: Igreja São José, Praça Sete e desce a Av. Amazonas, sentido Praça Rui Barbosa
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