Romance “Celeste” de Daniel de Matos retrata a luta feminina na periferia de BH

Com temas como racismo, desigualdade social e desapropriação, a obra tem lançamento marcado para 18 de janeiro, na Livraria Jenipapo

Ambientado em Belo Horizonte, durante as obras para a realização da Copa do Mundo, nasce o livro “Celeste”, que acompanha três gerações de mulheres de uma mesma família na periferia da grande BH e a forma como lidam com questões de gênero, desigualdade social, racismo e LGBTfobia. Primeiro romance do ator e jornalista Daniel de Matos, a obra será lançada no dia 18 de janeiro, às 10h, na livraria Jenipapo, na Savassi.

A publicação narra a saga de Dona Celeste, uma mulher negra e neta de escravizados, que saiu do interior de Minas Gerais para morar em Belo Horizonte e trabalhar como empregada doméstica na década de 1950. “A inspiração veio da minha própria família, dos relatos de vizinhos e conhecidos que eu cresci ouvindo, mas tudo de uma maneira que brinca com o realismo maravilhoso. Outra grande linha de força desse romance são as telenovelas”, revela o autor, Daniel de Matos.

Apesar de não ser biográfico, o romance guarda semelhanças com a própria experiência do escritor. “Venho de uma família de empregadas domésticas. Minha avó, minha tia e minha mãe, que acompanhava minha avó nas casas em que trabalhava. Para mim foi fácil entrar nesse universo porque eu também, de certa forma, faço parte dele”, pontua. A partir dessas vivências, Daniel também desenvolveu seu mestrado na Escola de Belas Artes da UFMG sobre a representação das empregadas domésticas no cinema brasileiro.  

“Celeste” é narrado em primeira pessoa por Clarice Santos, uma jovem lésbica que reconta a jornada de sua mãe e avó, que enfrentam diariamente a pobreza, o racismo e o machismo. “É um livro que encapsula a experiência de nascer e crescer em um bairro pobre e perceber as mudanças de classe social por meio da educação. Penso que esse é um livro de muitas imagens”, explica Daniel.

Outro tema com forte presença no livro é a desapropriação vivenciada por diversas famílias da capital mineira devido às obras para a Copa do Mundo. Em Belo Horizonte, quase três mil famílias foram afetadas pelas obras relacionadas ao evento em 2014, segundo pesquisas realizadas à época pela Faculdade de Arquitetura da USP. “Tenho uma lembrança muito forte das obras da avenida Antônio Carlos, da construção de mais pistas e da quantidade de casas destruídas para isso. Essa imagem ficou muito comigo e foi um dos principais pontos de partida para pensar o romance, para escrever a história sob a perspectiva daqueles que perdem e vão ser esquecidos”, recorda o autor.

Apesar das temáticas densas, “Celeste” possui um ritmo ágil, graças à sua narradora, que mescla a descrição de memórias e lembranças com acontecimentos futuros, além de trazer diversas referências a programas de televisão e à cultura popular. “É um livro que toca em temas muito delicados e sensíveis, e, por isso mesmo, eu entendi que seria importante dotar esses personagens de um senso de humor, de uma capacidade de resistir à dureza da vida. E isso se reflete também nas escolhas da linguagem, pensando em um livro com certa fluidez, que possa ser lido de uma vez e que tenha uma linguagem muito oral. É quase como se pudéssemos ouvir esses personagens conversando”, conclui.

SINOPSE

Clarice está sempre perdendo: perdeu a avó, Celeste, para um câncer; perdeu a casa onde a família vive há três gerações, na Vila dos Valentes, para uma das obras da Copa do Mundo de 2014; perdeu o pai, dependente químico; perdeu a mãe, que trabalha o dia inteiro; perdeu a tia que foi morar fora do Brasil. Mas, entre essas perdas, Clarice encontra algo pulsante e vivo: uma vida que vale a pena narrar.

Sobre o autor

Daniel de Matos nasceu e vive em Belo Horizonte, onde é jornalista, ator e professor de inglês. Já publicou textos dramatúrgicos pela editora Urutau, na coletânea “Epistolária: cartas para desobediência, a beleza e o fim”; e “Biscoito Frito” pelo selo Edições CPMT do Galpão Cine Horto. Encenou o solo “Biscoito Frito” na Mostra de Monólogos do Galpão Cine Horto em 2019 e 2022. Atualmente é doutorando em Comunicação Social na UFMG e pesquisa processos de elaboração de luto na ficção televisiva. Celeste é seu primeiro romance.

Lançamento do livro “Celeste”

Horário: 10h

Local: livraria Jenipapo (Rua Fernandes Tourinho, 241 – Savassi)

Valor do livro: R$ 50

Entrada Gratuita